Eu sabia que as pessoas olhavam para mim e viam alguém a viver os sonhos delas. Eu era um rapaz jovem, que ganhava a vida a praticar desporto. Eu sabia que tinha tido sorte, mas isso fazia-me sentir mais como um fracasso. Como se eu não tivesse o direito de ser infeliz, de estar deprimido. Eu tinha tudo o que sempre desejara e mesmo assim não sentia nada. Apenas vazio. Como se já não existisse luz. Eu não podia dizer nada aos colegas da equipa. Estava demasiado preocupado com o que eles iriam pensar de mim. Não os queria deitar abaixo.
Mas comecei a faltar aos treinos. Não consegui enfrentá-la. E o meu corpo sentia-se tão pesado - não conseguia sair da cama, por vezes durante dias. Qual era o objetivo? Por fim, houve um dia em que não consegui ir ao jogo. Fiquei no meu quarto, a suar e a tremer. Ainda me lembro daquele som do meu coração a bater com tanta força e tão alto no meu peito - como se estivesse a tocar - e a perguntar-me se seria esta a sensação de morrer. A parte assustadora é que eu não me importava, esperava que isso acontecesse. Pensei, pelo menos todos me perdoarão por não ser suficientemente bom.
Foi o meu tio que me encontrou sozinho no meu quarto, e nunca esquecerei esse momento. Ele só me deu um abraço. Foi então que chorei. E foi então que percebi que, na verdade, as pessoas querem ajudar, querem estar lá para ti. Mas tens de falar com elas. Tens de pedir ajuda.
A vida ainda tem muitos altos e baixos, mas eu sei que as coisas podem ficar bem. Tento manter uma rotina e cuidar de mim próprio. Já não tenho vergonha de precisar de ajuda para encontrar o meu equilíbrio - quer se trate de medicação ou de demorar tempo a falar sobre as coisas. E estou a começar a praticar desporto novamente. O exercício é bom - a minha mente silencia-se e eu deixo o meu corpo fazer o seu trabalho. Agora jogo em grupo porque o que mais gosto é estar com as pessoas, a desfrutar de algo em conjunto, como uma equipa.