Markus, 54

Lembro-me de ter tido problemas pela primeira vez quando era adolescente, na escola. Na altura, a vida não era muito boa para ninguém da minha família mas, em vez de falar sobre isso, descarreguei as minhas frustrações noutras pessoas. A única coisa com que me preocupava era este cão de peluche que guardava ao fundo da minha cama. Dei-lhe o nome de Milo e costumava contar-lhe tudo. Ele era o meu rochedo.

Apesar do meu comportamento terrível, consegui entrar na faculdade. Foi nessa altura que as coisas começaram a piorar. Em vez de me abrir, fechei-me completamente. Senti-me perdido. Como se eu não fosse bom em nada.

Estar deprimido era uma tortura. Quase tudo o que me rodeava me causava pavor e preocupação constantes, e o tratamento que parecia não funcionar. Sozinho num buraco e com o coração destroçado. Em determinada altura, este fui eu durante semanas e semanas e, honestamente, começamos a acreditar que não há esperança.

Não tinha muitos amigos chegados, mas dois deles apoiaram-me muito. Bom, apoiaram-me na medida do possível, comigo permanentemente num estado destes. Eles acompanharam-me ao psiquiatra que acabou por me diagnosticar uma perturbação depressiva major. De certo modo, senti-me aliviado. O meu companheiro permanente tinha um nome. Algo a que me podia agarrar e tentar compreender.

A minha depressão já não me define, mas faz, ainda assim, parte da minha vida. Sei o que sinto quando está a chegar e, quando chega, tenho pessoas que me amam e se preocupam comigo. São literalmente salva-vidas e não consigo imaginar onde estaria se não fossem elas. Demorou muito tempo a chegar aqui, mas aqui estou eu.

O Milo também continua comigo. É um bom ouvinte, mas tenho a certeza que por vezes me vê de forma estranha. Acho que consigo viver com isso.