Há décadas que sofro de depressão. Tive três esgotamentos e fui hospitalizada das três vezes. Já consultei três psiquiatras, cinco psicólogos e demasiados conselheiros para conseguir contabilizar. Não se nota, pois não? Não se consegue perceber pelo meu olhar nem pelo som da minha voz. Está a pensar "Mas está a sorrir!" Sim, estou a sorrir. Sorri para si. Sorri para não fazer com que se sentisse mal.
Também não quero que se sinta como se houvesse algo que pudesse fazer para me fazer "sentir melhor". Não há nada que alguém possa fazer. Experimentei quase todos os tratamentos disponíveis relacionados com a depressão, até mesmo 10 sessões de ECT (Eletroconvulsoterapia) sem sucesso.
Tinha 20 anos quando fiz a ligação entre o horror da minha existência e o termo "depressão". Estar viva era simples, total e absolutamente insuportável e eu só queria adormecer e nunca mais acordar.
É possível ainda funcionar com depressão. Há dias em que me levanto, maquilho, sorrio, saio de casa, tomo um café. Café, sempre. Mas há dias em que me deito no chão da casa de banho a chorar em desespero para que a dor acabe.
Há dias em que consigo conversar com amigos online durante horas, ajudá-los, falar sobre coisas sem problemas. Outras vezes deixo mensagens sem resposta durante semanas, meses, e penso em desligar-me de todos antes de eles terem a oportunidade de se desligarem de mim.
Há dias em que parece que me estou a afogar. Mas quando se sofre de depressão há tanto tempo como eu, arrastada de médico em médico, experimentando praticamente todas as terapias do livro, aprendemos a tomar consciência dos sintomas, dos desencadeantes, e a mantermo-nos em controlo.