37 anos
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É técnica de emergência pré-hospitalar no INEM e, por isso, sabe da importância de chegar primeiro. Sabe do quão necessário é prestar auxílio de forma rápida e eficaz, sabe que um diagnóstico rápido pode prevenir problemas maiores, sabe que é preciso seguir o rasto das doenças e sabe que, muitas vezes, é preciso ligar a sirene.
Rita não esperava ser apanhada, ela própria, pela psoríase. Ainda que, como profissional de saúde, tivesse plena consciência daquilo que era a doença, o diagnóstico apanhou-a desprevenida e teve de lidar com a doença duas vezes: aos 25 anos, num episódio que rapidamente desapareceu, e quatro anos depois, aquando do nascimento do filho.
Na altura do primeiro diagnóstico, e depois de lidar, sozinha, com a frustração, procurou logo perceber se o caráter hereditário se confirmava no seu caso. Tanto a mãe como o pai tiveram psoríase, mas os episódios remontavam há tanto tempo que Rita não tem sequer memória deles. Cinco anos depois, a reação foi “mais difícil”, explica-nos, porque “as lesões apareceram mais exacerbadas, com pior aspeto, escamativas, muito dispersas e pelo corpo todo”. A percentagem do corpo afetada não permitia “nem esconder, nem controlar.”
Além de lidar com psoríase, a técnica do INEM tem outra comorbilidade associada: artrite psoriática. Esta patologia, que já é limitativa no dia a dia de cada doente, torna-se mais patente para trabalhos que exijam mais esforço, como é o caso. As dores articulares, que têm “picos de agudização”, como nos descreve, atenuam nalgumas fases, mas não desaparecem.
Rita conta com o apoio dos colegas e define que é “essencial” o espírito de entreajuda e de compreensão da equipa com quem trabalha. Essa camaradagem nota-se, aliás, em todo o tempo que estivemos com ela, e em que não houve um colega que não parasse para dois dedos de conversa e um sorriso rasgado.
Se durante algum tempo optou por tentar esconder a psoríase, agora já não o faz. O mesmo não acontece com a artrite psoriática, que tenta não mostrar que a afeta em alguns dias, para não dar parte fraca ou ser mal interpretada.
Nas inúmeras viagens e interações que fez com doentes, Rita não tem registo de nenhum episódio desagradável relacionado com a sua patologia. Pelo contrário, a técnica de emergência pré-hospitalar refere que já aconteceu, “com vários doentes, partilhar a experiência e falar sobre o assunto”.
Numa perfeita representação dos profissionais de saúde, defende aguerridamente o seu papel em “desmistificar outras doenças”, mas sabe também que a psoríase fez “com que criasse mais empatia com os pacientes e, de certa forma, com o sofrimento das pessoas”.
Se a nível profissional Rita tem uma interação irrepreensível, quer por parte de colegas quer de doentes, o mesmo já não se pode dizer de situações em público. Sublinha que nunca foi abordada de forma depreciativa, mas nalgumas situações “nota-se as pessoas a olharem de lado”, nomeadamente no ginásio. Refere também que, algumas vezes, há pessoas “suficientemente à vontade para questionarem”, mas não vê aí estigma algum, apenas interesse em perceber.
Para Rita, o mais importante nesta viagem pelo mundo da psoríase é a confiança depositada nos profissionais de saúde que estão do outro lado – uma vez que ela própria é retrato de confiança e de entreajuda. Reitera a necessidade de cada pessoa estar informada porque, acredita, “há ainda muita falta de informação”. Destaca também a necessidade de se desmistificar o caráter crónico da doença, que significa apenas que não é curável, e não que não exista um tratamento. Rita é o exemplo de que a medicina e as terapêuticas adequadas ajudam e melhoram os sintomas, e que é preciso confiar nos médicos para se chegar ao melhor tratamento possível, que no caso dela se traduziu nos biológicos. A um nível mais emocional, Rita conseguiu já fazer o curativo numa ferida sarada, mas que ficará para sempre com ela.